Esse princípio de Nazaré Uniluz nos convida a vivenciar dois aspectos de expressão essencial do ser, o cuidado e o amor. É um exercício realizado nas nossas relações cotidianas com nós mesmos, com as pessoas e com os ambientes onde convivemos.
O amor
Muito se fala do amor. Parece que em todos os lugares, em todos os tempos, o desafio de viver amorosamente esteve e está presente, se contrapondo a atitudes egoístas ou indiferentes.
É o reconhecimento da Unidade. Eu e o outro, dentro e fora. Olhar e sentir além da dualidade. Sombras e luz são partes do mesmo espectro. O amor como o elemento base de todas as coisas e experiências.
O cuidar
Algumas descrições de “cuidar” encontradas em dicionários nos mostra mais uma vez como os princípios propostos por Nazaré Uniluz se interligam: “fazer, realizar (alguma coisa) com atenção”, “meditar com ponderação”, “responsabilizar-se por algo”.
Cuidamos de nós mesmos, nosso corpo, relações, pensamentos, ações… Cuidamos de nossas casas, dos espaços onde transitamos, do planeta onde vivemos.
Cuidamos de pessoas e situações por quem nos sentimos responsáveis.
Cuidamos mesmo? Ou descuidamos? Com que qualidade vivenciamos o cuidado em nosso cotidiano?
O cuidado amoroso no Viver em Grupo
No Viver em Grupo somos convidados a cuidar amorosamente. Trazer para essa ação concreta a qualidade do amor, como reconhecimento da Unidade, da essência única que partilhamos apesar de todas as diferenças aparentes.
Quando temos afinidade com alguém e nos sentimos ligados emocionalmente de forma positiva, tendemos a ver o melhor, a ter mais paciência e aceitação. Somos mais tolerantes e otimistas. Confiamos e abrimos nossas defesas, nos conectamos de forma mais profunda.
Se nos permitirmos fazer esse exercício independente de afinidades, podemos ampliar nossas conexões e experiências. Incluímos ao invés de excluir. Aproveitamos o momento presente sem julgamentos de valor. Contribuímos com nosso “tom”, nossa “cor”, para a paisagem que se delineia na experiência imediata.
Através do exercício do cuidado amoroso no Viver em Grupo, cuidamos de nós mesmos e também dos outros, escolhendo nossas ações de forma a cuidar de seu impacto no todo. Cuidamos para que os ambientes permaneçam organizados e em harmonia durante e depois de nossos trabalhos. Cuidamos dos acordos que existem para que tenhamos uma experiência coletiva harmoniosa. Respeitamos a nós mesmos e aos outros, confiando na essência única e positiva que compartilhamos.
Um exercício contínuo
É um exercício proposto em vários aspectos, não só em relação às outras pessoas, mas também com nós mesmos, às situações e aos ambientes. Por que é mais fácil cuidar e demonstrar amor para os outros, enquanto somos duros em relação a nós mesmos?
Quantas vezes não nos aceitamos, não nos amamos… quantas fomos ensinados que seria egoísmo suprir as próprias necessidades, como se não fosse possível encontrar um caminho do meio para suprir nossas necessidades e também dos outros e dos ambientes que compartilhamos?
Uma história…
Essa é uma história muito antiga, atribuída a um autor desconhecido:
“Certa vez, perguntei para o Ramesh, um de meus mestres na Índia: Por que existem pessoas que saem facilmente dos problemas mais complicados, enquanto outras sofrem por problemas muito pequenos, morrem afogadas num copo de água?
Ele simplesmente sorriu e me contou uma história:
Era uma vez um sujeito que viveu amorosamente toda a sua vida. Quando morreu, todo mundo lhe falou para ir ao céu, um homem tão bondoso quanto ele somente poderia ir para o Paraíso. Ir para o céu não era tão importante para aquele homem, mas mesmo assim ele foi até lá. Naquela época o céu não havia ainda passado por um programa de qualidade total. A recepção não funcionava muito bem. A moça que o recebeu deu uma olhada rápidas nas fichas em cima do balcão e, como não viu o nome dele na lista, lhe orientou para ir ao Inferno. E no Inferno, você sabe como é. Ninguém exige crachá nem convite, qualquer um que chega é convidado a entrar. O sujeito entrou lá e acabou ficando.
Alguns dias depois, Lúcifer chegou furioso nas portas do Paraíso para tomar satisfação com São Pedro: Você é um tratante! Nunca imaginei que fosse capaz de uma baixaria como essa. Isso que você está fazendo é puro terrorismo!
Sem saber o motivo de tanta raiva, São Pedro perguntou,
surpreso, do que se tratava. Lúcifer transtornado desabafou:
Você mandou aquele sujeito para o Inferno e ele está fazendo a maior bagunça lá. Ele chegou escutando as pessoas, olhando-as nos olhos, conversando com elas. Agora está todo mundo dialogando, se abraçando, se beijando. O Inferno está insuportável, parece o Paraíso!
E fez um apelo: Pedro, por favor, pegue aquele sujeito e traga-o para cá!
Quando Ramesh terminou de contar essa história olhou-me carinhosamente e disse:
Viva com tanto amor no coração que se, por engano, você for parar no Inferno, o próprio demônio lhe trará de volta ao Paraíso.”
Um desafio para todos
Viver amorosamente, cuidar amorosamente de nós mesmos e dos outros, de nossa casa e ambientes onde vivemos e transitamos, do planeta onde vivemos… é um desafio que cada um de nós tem a cada instante. Escolher se conectar com o que nos une ou nos separa. Encontrar o equilíbrio entre o ser individual e coletivo que somos. Aceitar a responsabilidade pelo mundo que co-criamos. Aprender formas de comunicação que nos conecte em essência… E você? Aceita o desafio de viver amorosamente no seu dia a dia?
Por Rosangela Gonçalves, junho/2020.
Graduada em Serviço Social pela UNESP em Franca-SP, pós-graduação em Psicologia Transpessoal por Nazaré Uniluz, terapeuta com cursos de massagens, florais, terapia corporal e energética. Tecelã e focalizadora de Danças Circulares.
Em 2007-2008 foi residente em Nazaré Uniluz. Depois desse período foi coordenadora por três anos do Programa Viver em Grupo – metodologia básica desse espaço.