O Zen Budismo é uma das muitas tradições espirituais originadas a partir do Budismo, que surgiu na Índia há cerca de 2600 anos. Ao longo dos séculos, os ensinamentos de Buda e os praticantes do Budismo não ficaram limitados à Índia, mas se espalharam por todo o oriente. A cada novo encontro entre os ensinamentos e uma cultura asiática, uma mescla vai ocorrer, e o Budismo que chega vai adotar características da cultura que o recebe. Na China, esse encontro vai dar origem ao Zen e esta tradição também vai se espalhar por outros países e culturas.
A Escola Zen Budista SotoShu
A Escola Zen Budista a qual pertence a Monja Coen Roshi chama-se SotoShu, ou Soto ZenShu. Ela surge ainda na China, onde chamava-se CaoDong, e é levada para o Japão pelo Mestre Zen Eihei Dogen, nosso fundador. Nós praticamos de acordo com a orientação de Mestre Dogen, que organizou todos os procedimentos para monásticos e leigos, práticas diárias, liturgias e também nossa hierarquia e princípios. Mestre Dogen foi um grande monástico Zen Budista e também um filósofo, poeta e escritor. Sua obra mais importante chama-se Shobogenzo e reúne 96 volumes de ensinamentos Zen Budistas.
Os Preceitos Puros
A Prática do Zazen
A base de nossa prática, porém, não está no estudo. Estudar é muito importante para nós, mas o estudo somente não transforma nosso coração-mente. A base da nossa prática é o Zazen, a meditação Zen Budista. O Zazen é o que Xaquiamuni Buda praticou durante 7 dias e 7 noites, após abandonar as práticas ascéticas que fez durante 6 anos. Nesta época ele ainda se chamava Sidhartha Gautama. Vendo que essas práticas não o levavam a se aproximar da Verdade, da solução para a questão do sofrimento, do sentido da vida, Sidhartha sentou-se em Zazen, decidido a não se levantar até achar as respostas que buscava. Na manhã do oitavo dia, ao ver a estrela da manhã, ele teve sua experiência mística e exclamou: “Que maravilha! Eu, a Grande Terra e todos os seres simultaneamente nos tornamos o Caminho.” Após este despertar, ele ficou conhecido como Xaquiamuni Buda: o Desperto da Tribo dos Xáquias, e ensinou durante 49 anos aquilo que aprendeu.
Zazen é o que nos coloca de frente para nós mesmos, para nós mesmas. Através do Zazen, penetramos a nossa mente e aprendemos como ela funciona. Experimentamos sensações, sentimentos, pensamentos e estudamos como é a nossa relação com tudo isso. Expandimos a consciência e aprendemos a ver a realidade em profundidade, para além da limitação dos sentidos e do pensamento. Ao mesmo tempo em que experimentamos a Sabedoria do despertar, acordamos para a Compaixão Ilimitada e nos colocamos a serviço de todos os seres, buscando uma existência de harmonia e cuidado.
Vivenciando Zen Budismo em Nazaré Uniluz
Ao longo de nossas vidas, nós, Zen Budistas, buscamos manifestar esses princípios que chamamos de Votos, Preceitos e Caminho, entre outros. Não é muito diferente do que vemos e experimentamos quando estamos em Nazaré Uniluz.
Ao longo de tantos anos conduzindo retiros em parceria com Nazaré Uniluz, tivemos a oportunidade de presenciar e atuar juntos para o benefício de qualquer pessoa que chegue até lá: o estudo da mente, o desenvolver do cuidado amoroso, colocar-se a serviço do outro, promover o desenvolvimento do ser humano.
Para nós, o ritmo diário de Nazaré é muito natural. Observar o nobre silêncio pela manhã, como fazemos em Nazaré Uniluz, faz parte do dia a dia de Centros de Prática, Templos e Mosteiros Zen. A primeira atividade do dia é sempre Zazen, da mesma forma que em Nazaré é a meditação das 07h00.
Nossas primeiras falas do dia são para a Liturgia Matinal, seguida da refeição da manhã ainda em silêncio. Logo após esta refeição, da mesma forma que em Nazaré, nos preparamos para o Trabalho Comunitário. Em Nazaré abre-se a roda, lê-se o ensinamento da manhã e distribui-se as tarefas. No nosso caso usamos o termo Samu para esta harmonização dos nossos espaços de prática, para este cuidado amoroso. Também distribuímos as tarefas e procuramos agir em plena atenção, falando o mínimo necessário, percebendo onde e como somos mais úteis para o bem de todos, de todas.
O ritmo de Nazaré Uniluz e as práticas Zen
O ritmo de Nazaré, com as meditações da manhã, meio dia e da noite, intercaladas com as refeições e horários de trabalho e estudo, em muito se assemelha ao dia a dia de nossos locais de prática. E da mesma forma que em Nazaré, ao final do dia voltamos a observar o nobre silêncio, desligamos nossas luzes em um horário determinado, e nos recolhemos, para nos rever no dia seguinte e praticar novamente juntos, juntas.
Como eu disse, foram muitos anos de retiros em parceria. E tudo aquilo que é parecido em nossos princípios e ritmos ajudou muito a aproximar as diferenças de prática, os pequenos detalhes que são conduzidos de forma distinta em um local de prática Zen e em Nazaré. Através deste espírito de servir amorosamente, buscamos soluções e adaptações para as diferenças e vimos surgir uma atividade forte, plena, saudável e em harmonia com os princípios de Nazaré Uniluz e da prática do Zen Budismo. Que possamos com isso beneficiar o maior número de seres.
Mãos em prece,
Genzō.
Por André Genzō Spinola e Castro, em Dezembro/2020.
André Genzō é discípulo leigo da Monja Coen Roshi Sama desde 2003. Recebeu os preceitos em 2007 e formou-se professor em 2018. Orienta o Zazen de Iniciantes aos domingos e o Curso de Zen-Budismo, às quartas-feiras. É professor de fotografia, fotógrafo e fundador da escola Rever – Estudos em Fotografia. Desde 2009 desenvolve cursos sobre O Zen e a Arte da Fotografia – ZenFoto.